O ano era 2015 e era pra ser só uma foda ou mais.
Eu posso explicar. Jovem de 27 anos, religioso e com os hormônios a flor da pele. A única forma de relacionamento que eu, de fato conhecia, era a monogamia. A única aceita pela minha religião e ensinada pelos meus pais desde que me entendo de gente. As opções eram: Monogamia ou uma vida de pecado com o inferno no final.
O que ninguém me ensinou foi que a monogamia poderia ser o próprio inferno... Não dá pra eu culpar os outros por isso, porque se eu tivesse prestado atenção, eu teria percebido por conta própria. Crescido num lar religioso e monogâmico com um pai amoroso que tentava ser fiel e não conseguia e que se culpa e martiriza por isso até hoje. Uma mãe que fala de Deus o tempo todo; mas que se utiliza dEle come se fosse seu cão de guarda obediente que vai te matar se você se opor a ela ou traí-la (no caso do meu pai).
Sempre culpei meu pai pelos seus impulsos sexuais e cheguei a “dedurá-lo” várias vezes a minha mãe. Com o tempo comecei a ver os sinais de abuso e intensa pressão psicológica sobre ele. Crises de ciúmes que chegaram a agressões como tapas e arranhões que ele tentava esconder da gente.
Jovem (nem tanto) e cheio de hormônios e com a carga sexual claramente herdada do meu pai (risos), casei para transar já que minha religião não permitia fazer isso antes do casamento. Foi como unir a fome a vontade de comer. Eu queria transar e achei uma garota nova com uma relação familiar turbulenta (que eu não sabia) que estava doida pra sair de casa. Dá pra sentir por aí que “foi amor à primeira vista”, né? Uma situação apaixonada pela outra de uma forma que parece que não paramos pra pensar nas pessoas envolvidas (ela e eu).
Um lindo casamento como manda o figurino religioso: cerimônia na igreja, vestido de noiva, recepção para convidados e uma lua de mel de tirar o pinto da miséria. Então eu transei e ela estava fora da turbulência familiar. Era hora de a vida mostrar a parte que não pensamos. Mesmo fazendo questão de leva-la comigo aos trabalhos, o ciúme começou a sobressair a nossa relação. Vale salientar que neste contexto eu seguia cegamente minha religiosidade, me dedicando a ela e reprimindo todos os meus desejos, impulsos e até pensamentos “pecaminosos” (que não eram poucos).
Não demorou pros ciúmes se transformarem em discussões e as discussões se transformarem em brigas e logo vi o quadro familiar de que ela havia fugido, se repetir em nossa relação. Todos os presentes de casamento foram quebrados no primeiro ano. Com a turbulência veio a falta de sexo porque não havia química e com a falta de sexo em casa a “tentação” de pular a cerca. Nunca a traí; mas não conto as vezes de que tive vontade e isso me incomodava.
Logo me vi sustentando um casamento insustentável até que numa das brigas ela partiu para agressão e aí vi que não queria a relação que meus pais tinham de manter um relacionamento doentio em nome da monogamia e da religião que condenava o divórcio. Meus pais com o casamento falido me aconselhavam a continuar tentando (como eles que só este mês resolveram se separar depois de vários anos perdidos). Até recentemente ainda fui aconselhado a voltar para minha ex-mulher porque a relação que vivo é errada e pecaminosa.
Hoje vivo com alguém que sabe realmente quem sou: imperfeito, safado e que não pode ver um rabo de saia (ou de calça ou de shorts - risos). Alguém que me ama como sou e sabe separar o amor do sexo. Que sabe que mesmo seguindo desejando outros corpos, jamais trairá a transparência e cumplicidade o que temos e isso é amor.
Exclusividade não é amor e ciúme não é cuidado. A monogamia não é errada, pode funcionar (e funciona) para muita gente que realmente se identifica com ela; mas não deveria ser a clave que rege todos os relacionamentos. Talvez a monogamia fosse a melhor escolha para minha mãe; mas não era pro meu pai e com certeza não foi e não é para mim. E esse foi o meu fracasso monogâmico.